O talento que a Volta ao Algarve mostra ao Mundo

A lista dos vencedores das últimas dez edições da Volta ao Algarve impressiona pela imponência: Michal Kwiatkowski, Primoz Roglic, Geraint Thomas, Tony Martin, Richie Porte e Alberto Contador. Ou seja, é uma lista com vencedores de grandes voltas, campeões mundiais, ganhadores de provas por etapas do WorldTour e triunfadores em “monumentos” e outras clássicas de primeiro nível.

Não há dúvidas que os maiores talentos passam, todos os anos, pela Volta ao Algarve. Mas há, desde 2015, ainda outra grelha de leitura que permite avaliar a corrida portuguesa como um acontecimento que ajuda a mostrar valores emergentes ao mundo do ciclismo: a classificação de melhor jovem.

Após vários anos em que não existiu qualquer prémio para o melhor jovem da competição, a organização introduziu a camisola branca, da juventude, em 2015. Foram três os corredores que conquistaram o prémio desde então: David Formolo, no primeiro ano, Tiesj Benoot, em 2016 e em 2017, e Sam Oomen, em 2018.

Qualquer um destes corredores já era conhecido mundialmente aquando da conquista da camisola branca, até porque todos já representavam equipas WorldTour no momento em que subiram ao pódio algarvio. No entanto, foi depois do sucesso em Portugal que impulsionaram definitivamente a carreira.

Após ser coroado melhor jovem da Volta ao Algarve, em 2015, David Formolo ganhou uma etapa no Giro do mesmo ano, foi nono na Vuelta do ano seguinte, décimo no Giro de 2017 e no de 2018, ano em que somou ainda mais quatro top 10 em provas do WorldTour.

O belga Tiesj Benoot, que conseguiu as camisolas brancas no Algarve conjugando o desporto de alto nível com os estudos superiores, ainda procura posicionar-se enquanto corredor: será mais um homem para as clássicas -e que tipo de clássicas? – ou para as provas por etapas? O certo é que qualidade não lhe falta. Depois do primeiro pódio no Algarve, Benoot venceu a Strade Bianche, em 2018, e somou nove top 10 em corridas WorldTour… por etapas e de um dia.

O mais recente “camisola branca” da Volta ao Algarve, o holandês Sam Oomen, também vai dando que falar. Após o sucesso de fevereiro passado, o jovem da Team Sunweb foi nono na Volta a Itália, sétimo na Volta à Suíça e nono na Volta à Polónia, tudo corridas do WorldTour. Para 2019, anuncia-se a oportunidade de ser o ou um (depende da presença ou ausência de Tom Dumoulin) dos chefes-de-fila da equipa na Volta a França.

A Volta ao Algarve consegue ainda ser uma via de afirmação e projeção dos corredores portugueses que se apresentam na máxima forma. Tiago Machado nunca negou que foram os consecutivos desempenhos taco-a-taco com os melhores do mundo que lhe abriram as portas do WorldTour. E a CCC revelou que a contratação de Amaro Antunes teve muito a ver com a vitória do algarvio na etapa do Malhão, em 2017.

Há também que não esquecer os lugares-tenentes das estrelas que aproveitam o Algarve para mostrar aos diretores das equipas que mereciam mais oportunidades. Geraint Thomas é um caso paradigmático, pois, durante muito tempo, a Volta ao Algarve foi a mais importante corrida por etapas do currículo.

E que dizer de Primoz Roglic, que chegou tarde ao ciclismo, após muitos anos nos saltos de esqui? O esloveno contou aos jornalistas que sentiu poder vir a ser um corredor de topo na primeira vez que subiu a Fóia em competição, em 2016. No ano seguinte conquistou a Volta ao Algarve e, um dia depois da vitória, a equipa renovou-lhe o contrato, com valores mais elevados e a expectativa de ter em Roglic em futuro vencedor de uma grande volta.

Em 2019, de 20 a 24 de fevereiro, novos talentos vão singrar e grandes nomes irão confirmar-se como estrelas internacionais. Tudo numa estrada perto de si, no Algarve.