Remco Evenepoel conquistou pela segunda vez ao Volta ao Algarve. Foi um final de muita classe do belga, numa corrida em que a Quick-Step Alpha Vinyl foi irrepreensível. Além da vitória na geral, teve o sprinter Fabio Jakobsen em grande, o que significou que venceu três das quatro classificações individuais e três das cinco etapas.
Tem sido hábito esta equipa estar no Algarve para somar sucessos. Evenepoel junta-se a uma curta lista de ciclistas que venceram por duas vezes a geral, depois de em 2020 já ter sido superior a toda a concorrência. Tem apenas 22 anos e o palmarés é cada vez mais de respeito. Evenepoel ficou com a Camisola Amarela Turismo do Algarve, mas também a Branca IPDJ, símbolo da classificação da juventude.
“Queria voltar [ao Algarve] e fazer o mesmo que há dois anos e estou feliz por o ter conseguido. Sabia que esta semana o contrarrelógio era o mais importante. Ontem [sábado] dei tudo e ainda sentia hoje [o esforço] nas pernas. Mas quando nos aproximámos da última subida, o Louis [Vervaeke] e os companheiros fizeram um grande trabalho”, afirmou o campeão de 2022.
Sobre a subida no Malhão: “Ataquei, mas vi que eles ainda estavam a seguir. Percebi que não iam atacar imediatamente e decidi meter um ritmo alto até aos 200 metros finais. Sabia que a vantagem era grande e só queria saborear os últimos metros na minha camisola amarela, por isso é que celebrei um pouco na meta.”
O ciclista sai da 48.ª edição da Volta ao Algarve satisfeito pela forma física que conseguiu demonstrar, tendo até afirmado que tinha feito na quarta etapa o melhor contrarrelógio da sua carreira, etapa que venceu. No Malhão defendeu-se muito bem, tal como tinha acontecido na Fóia.
“O plano antes da corrida era sobreviver nas etapas de montanha e no contrarrelógio ganhar o máximo tempo de possível aos adversários. Fiz também o meu trabalho no comboio para o Fabio [Jakobsen], ganhámos duas etapas. Eu ganhei uma e nas duas etapas de montanha sobrevivi muito bem”, explicou.
Os colombianos Sergio Higuita (Bora-Hansgrohe) e Daniel Martínez (INEOS Grenadiers) sprintaram para a etapa, com o primeiro a ganhar e com o segundo a garantir um lugar no pódio, ao subir a terceiro da geral.
O americano da UAE Team Emirates, Brandon McNulty ficou em segundo, a 1:17 minutos de Evenepoel, com Martínez a fechar a corrida a 1:21. Ehan Hayter (INEOS Grenadiers) estava na segunda posição antes da etapa, mas caiu para a quarta, não repetindo assim o lugar de 2021. A equipa britânica venceu por equipas.
Malhão não desiludiu
A última etapa arrancou de Lagoa, com 173 quilómetros para percorrer até ao Alto do Malhão, duas metas volantes (Paderne e Loulé) e cinco contagens de montanha: Picota, Vermelhos e Alte (todas de terceira categoria) e mais a dupla passagem no Malhão (segunda categoria, com a última a coincidir com a meta).
A fuga do dia foi de 20 ciclistas, com as equipas de todos os que ainda aspiravam a tirar a liderança a Remco Evenepoel representadas, para que pudessem ajudar mais tarde os líderes. Apenas Dries de Bondt (Alpecin-Fenix) e Georg Zimmermann (Intermaché-Wanty-Gobert Matériaux) ainda estavam na frente aquando da primeira passagem pelo Malhão.
Porém, na luta pela geral, Daniel Martínez começou cedo a mexer na corrida, tentando isolar Remco Evenepoel. Um primeiro sinal, mas que mais nenhum candidato tentou dar seguimento. Yves Lampaert (que tinha estado na fuga) acabou por ser uma ajuda preciosa para Evenepoel e o grupo teve mais ciclistas a entrar perto da segunda subida ao Malhão. Mas não demorou a partir novamente.
Com menos de três quilómetros para a meta e com Evenepoel muito confortável, tornou-se óbvio que restava aos outros corredores lutar pela vitória de etapa. A camisola amarela estava entregue.
Higuita já tinha estado muito bem na Fóia. Contudo, sofreu uma queda com o final à vista, num toque com Tobias Foss (Jumbo-Visma). Desta feita, tudo correu bem ao campeão da Colômbia.
“Antes de mais quero dedicar esta vitória à bisavô da minha namorada que faleceu no dia em que caí [segunda etapa]. Ter a possibilidade de vencer a etapa, cair, chegar ao hotel e receber essa má notícia.. .É um grande golpe. Hoje saímos para a etapa motivados para dar o melhor e conseguimos esta vitória. A equipa teve dias difíceis no Algarve, um dos nossos caiu e partiu a clavícula, outro ficou doente, mas hoje ganhámos”, referiu Higuita.
O ciclista da Bora-Hansgrohe salientou com Evenepoel estava forte: “Pensava atacar mais tarde, a 300 metros, mas o [Brandon] McNulty antecipou-se e, ainda bem. Estava um vento muito forte de frente e, para não arriscar cair de novo, decidi esperar pelos últimos 100 metros para ultrapassar o Daniel [Martínez]. Estou feliz por esta vitória, sobretudo por consegui-la após vencer o campeonato da Colômbia que conquistei há oito dias.”
As restantes camisolas
Fabio Jakobsen segurou até final a Camisola Verde Crédito Agrícola. As duas vitórias ao sprint, em Lagos e Faro, deixaram-no confortável na liderança, mas o neerlandês não quis deixar dúvidas e na segunda meta volante do dia, em Loulé, foi terceiro e fechou as contas da classificação. 51 pontos contra os 36 de Bryan Coquard (Cofidis) e os 29 de Alexander Kristoff (Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux).
Já na montanha, a batalha foi bem diferente. João Matias (Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados, integrou a fuga para tentar defender a Camisola Azul Lusíadas por que tanto lutou nesta Volta ao Algarve. Os três pontos que amealhou (somou 15 no total) foram suficientes para segurar a liderança e subir ao pódio final como rei da montanha, deixando David Gaudu (Groupama-FDJ) na segunda posição, com 12.